Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio... ou pode?
- Pai Fabio Tadeu
- 1 de mar. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 25 de nov. de 2020
Heráclito de Éfeso desenvolveu este pensamento há mais de 2.500 anos, no século VI a. C., na Ásia Menor. Seus estudos afirmam que tudo é “vir a ser”, e que tudo se transforma num processo permanente e constante.
O filósofo compara este pensamento como um rio “Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas e o próprio ser humano já se modificou. Assim, tudo é regido pela dialética, a tensão e o revezamento dos opostos.
Portanto, o real é sempre fruto da mudança, ou seja, do combate entre os contrários.
O que mais encantava Heráclito eram as mudanças as quais tudo está submetido, pensamento descrito no conceito de devir.
Devir é o movimento contínuo do mundo e do universo, a mudança incessante. Dizer que algo está em devir é dizer que algo está em vias de se tornar outra coisa, ou seja, que está em transformação, em mudança constante.
No caso do mundo, da natureza, da vida, não existe nada estático, paralisado (nem mesmo a matéria sólida deixa de sofrer alterações, de modificar-se). A isto chamamos de devir: o estado de mudança permanente. O conceito de devir se opõe, na metafísica socrático-platônica, ao conceito de ser, sendo o ser aquilo que é eterno, imóvel e imutável.
Estamos no devir porque mudamos, porque as coisas mudam, mas algo em nós permanece o “mesmo”, e é esse “mesmo” é o que nos define.
O “mesmo” é o ser, a essência, ou seja, segundo esse filósofo, mudamos apenas na superfície, e não em profundidade. Isso quer dizer que nossa essência permanece a mesma e é ela que nos define como humanos.
O filósofo apresenta a causa e a lei deste pensamento, que é tida como princípios da mesma natureza. Heráclito pensava, ainda, que é o homem responsável pelo seu destino, e que poderá seguir uma das duas vias, sendo a ascendente a correta, e que no ato da morte, o homem retorna ao fogo eterno e tornando assim um imortal.
É claro que nem todos concordam com isso. Para Heráclito, o próprio ser é devir, ou seja, a verdadeira realidade das coisas é a mudança e não a permanência.
Retirando qualquer aspecto metafísico do termo devir (como movimento em si, puro), ousamos defini-lo como “matéria em movimento”, pois não existe movimento sem matéria, nem matéria sem movimento. Enfim, a ideia do devir e da diferença está para as filosofias nômades (pensador nômade / pensador sedentário), assim como a ideia de ser e permanência estão para a metafísica sedentária.
Parmênides de Eléia, século V a.C., foi o mais influente dos filósofos que precederam Platão, poeta de grande destaque escreveu o poema “Sobre a natureza”, composto de duas partes: Da verdade e Da opinião. Ele propôs que tudo o que existe é eterno, imutável, indestrutível, indivisível e, portanto, imóvel.
Ele sustenta a ideia do ser e o não-ser, dando destaque a realidade do ser. Contrariando o pensamento de Heráclito e afirmando que: “ou algo é ou não é”, e não há possibilidade de vir a ser, pois “se é não pode vir a ser, porque já é”. Afirmando essa ideia, ele explica que do nada não se tira nada, porque ela precisa existir, e está existindo.
Buscando a explicação lógica do ser, ele apresenta a relação entre o ser e o pensamento, e ambos são a mesma coisa, sendo assim, o pensar se encontra expresso no ser. Com esse pensamento, Parmênides comprova que o objeto do pensamento é o ser e que o não ser seria algo impossível.