Linguagem dos gêneros
- Julia Barcat
- 12 de jul. de 2022
- 5 min de leitura

Um dos grandes desafios atuais, principalmente dos “assessores de imprensa”, é conseguir aliar uma linguagem personalizada com os padrões e normas vigentes dentro dos veículos de difusão de obras culturais.
Mas este desafio não é somente dos que desenvolvem uma linguagem para que os produtos e serviços conversem com seu público algo, o que por si é um grande feito quando a velocidade da informação e a quantidade de veículos são incalculáveis, assim como as mudanças tornam-se mais dinâmicas.
Vai além disto.
São transformações comportamentais, de pensamentos, ideológicas, de expressão, de liberdade, de se entender, aceitar e respeitar que fazemos parte e vivemos uma transformação histórica e que não precisamos, necessariamente, mudarmos nossas crenças ou o que quer que seja, mas simplesmente não cometermos os “mesmos” equívocos daqueles que viveram (em outras épocas) grandes mudanças e por quaisquer razões não colaboraram para elas ou, em sua maioria, prejudicaram um processo natural de mudanças, transições e evolução.
Sobre Todas, Todes, Todos e Todxs e seus “derivados”, são exemplos de uma linguagem “mais inclusiva”, que atende aos anseios da comunidade não-binária e estão se tornando cada vez mais populares (principalmente na comunidade artística pela internet).
“Na prática, qualquer alteração em texto oficial depende de vários fatores gramaticais e populares. Alguns canais de comunicação acreditam que a linguagem não-binária se faz muito presente (e até com bastante ênfase), porém, ela tem sido um fenômeno específico das redes sociais. O que tem acontecido é que muitas frentes populares têm usado as redes sociais como veículo máximo de informação – o que provoca um choque entre essa linguagem e as normas da língua portuguesa adotadas por veículos de comunicação.”
O país, as civilizações, estão mudando e o jeito de se comunicar, também.
Os assessores de imprensa mudaram a forma de escrever um release, os poetas e compositores com novas inspirações para suas obras e “um” dos grandes desafiadores disto (e de tantos outros setores da sociedade), sem dúvidas, é o universo LGBT... LGBTQI... LGBTQIA+... ops... LGBTQQICAPF2K+... vejam que vai (está e irá) muito além do Todes, Todx no lugar de Todos e Todas.
No entanto, um “entrave” ainda existe: as redações jornalísticas e de veículos de comunicação seguem as normas adotadas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) que tem como premissa a Língua Portuguesa Brasileira.
Historicamente, sabemos que a língua portuguesa brasileira tem como matriz a língua portuguesa de Portugal que, por sua vez, tem como matriz o latim.
O latim era a língua oficial do antigo Império Romano e possuía duas formas: o latim clássico, que era empregado pelas pessoas cultas e pela classe dominante (poetas, filósofos, senadores) e o latim vulgar, que era a língua utilizada pelas pessoas “do povo”.
O português originou-se do latim vulgar, que foi introduzido na península Ibérica pelos conquistadores romanos. A adaptação e criação de normas da língua portuguesa tem toda uma referência ao tradicionalismo e patriarcado, dando predominância à figura de linguagem masculina.
O exemplo desse uso patriarcal da língua portuguesa pode ser observado nas regras do plural. Se há duas mulheres e um homem numa frase, o plural seguirá priorizando o homem.
“As atrizes Ângela e Marta estavam se apresentando com o ator Jorge Pontual. Os três artistas fazem parte de um grupo.”
É perceptível que a nossa língua prioriza a figura masculina.
Muito bom... como fazer para que uma comunicação “binária”, que prioriza a figura masculina que com ela traz todo um caos histórico “predominante” que ainda pagamos (caro) por ele – pagamos valores, repressões, castrações, entre outros – possa conversar com os “não binários”: LGBTQQICAPF2K+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queers, questionadores, intersexuais, curiosos, assexuais/agêneros, pansexuais/polissexuais, familiares e amigos, 2 "two spirit" (gêneros não-ocidentais), kink (formas de excitação não-heterossexual) e (outras opções) que formam, a cada dia, uma maior representatividade dos integrantes e das filosofias de vida?
Outra questão importante dentro dessas variações linguísticas:
Alguns grupos LGBTQIA+ usam o X no lugar das vogais A ou O para não definirem feminino ou masculino. Por exemplo: “Todx x artistas presentes comemoraram a premiação do espetáculo.”
Outros grupos preferem usar: “Todes artistas presentes no evento comemoravam a premiação do espetáculo.”
Olhando superficialmente, é compreensível, mas há um outro público que não concorda com o uso da letra X porque ela não é legível e interpretada por aplicativos e programas tecnológicos que atendem deficientes visuais. Um aplicativo lê a junção de sílabas com o X e não traduz foneticamente. Por isso, é defendido o uso da vogal E no lugar da letra X para que a palavra não priorize gênero masculino ou feminino. Sim, pois deficiência visual não define identidade de gênero, e vice-versa.
Para saber mais sobre como cada gênero se define, consultem as fontes que estarão ao final do texto.
Sim. São muitas as derivações. O uso desses termos, quando muito repetido por um grupo e uma comunidade tornam-se exemplo de outro termo muito adotado pela sociologia e pela comunicação: o Vox Populi.
O que vai salvar o mundo é a forma com a qual as pessoas se relacionam, pois elas formam a sociedade e, consequentemente, a escola, a política, a economia, as religiões, etc e neste sentido o “Vox Populi” – A Voz do Povo, falará mais alto, porque “A voz do povo é a voz de Deus”, independentemente de quem quiser, ou não, ouvir.
As terminologias e expressões da linguagem adotadas por grupos e comunidades LGBTQIA+ (oficial, até o momento) estão entrando gradativamente no vocabulário popular. Logo, até passarão a ser um exemplo de Vox Populi, mas por enquanto o uso é bem restrito. Ele é forte mesmo nas redes sociais.
Na linguagem jornalística e de comunicação, essas expressões ainda não foram totalmente inseridas, justamente pelo que foi escrito acima: a aplicação delas ainda não faz parte do vocabulário popular e das regras da língua portuguesa num panorama geral. O uso delas nas redes sociais não obriga o uso delas em textos padronizados e todos devem avaliar, caso a caso, a utilização ou não dos termos. Como não estão inseridas dentro da ABNT, tais termos não são obrigatórios
É sabido que para comunidade LGBTQIA+ esses termos são importantes enquanto questão de representatividade, mas a consciência de que eles fazem parte, pelo menos por enquanto, da linguagem da internet e das redes sociais se faz necessária.
A mudança é gradual. Ela é importante e necessária enquanto representatividade, mas ainda é uma variação, uma derivação. Com o tempo irá mudar. Fato! É só termos paciência e compreendermos todas as partes da comunicação, por isso é importante o diálogo e, acima de tudo, o respeito, a aceitação, o entendimento, o acesso ao direito de cada um ser livre em pensamento e expressão e, sempre que possível, deixarmos “transparente” que a nossa Casa, nossos princípios e valores, atuam incondicionalmente pela liberdade e respeito a cada indivíduo em sua essência plena, não os distinguindo por gênero, definição de raças, origens, ou quaisquer outras.
Seguimos as “normas” e “leis” materiais – como a da ABNT, por exemplo, o que não nos limitará em estarmos ao lado... lado-a-lado e ativos, nas mudanças, transformações e apoio à nossa comunidade e sociedade.
O primeiro passo: abrir... a mente, os olhos, o coração.
Na sequência, informar-se, refletir e caminhar com amor.
Fontes:
Qual a diferença entre identidade de gênero e orientação sexual?
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